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A fome oculta em 2021 e seus desdobramentos

A fome oculta em 2021 e seus desdobramentos

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O importante papel da nutricionista no combate das carências nutricionais!

A fome oculta atinge quase um terço da população mundial e é mais prevalente do que a fome crônica, que gera desnutrição protéico-energética. Sabe-se que o consumo inadequado de micronutrientes pode ter muitos efeitos adversos na saúde1. Obesidade, envelhecimento cutâneo e sistema imunológico prejudicado são algumas das condições associadas. Logo, nutricionistas precisam estar atentos para exames físicos, clínicos e bioquímicos que avaliam níveis sanguíneos e consumidos das vitaminas e minerais para poder, então, trazer soluções para melhorar o aporte de nutrientes.

Para a nutricionista Marcela Sansone, durante a prática clínica, normalmente, a fome oculta é diagnosticada pela avaliação física do paciente e pela descrição de alguns comportamentos. “Se o paciente estiver com queda de cabelo, unhas fracas, cansaço, falta de disposição, provavelmente estão faltando nutrientes e minerais em seu corpo. Essa falta gera fome oculta, pois ele não está nutrindo suas células e não está gerando saciedade suficiente para seu corpo. Além disso, em relação ao comportamento, um típico exemplo é aquele paciente que nunca está saciado, sempre estando com fome mesmo após a refeição, ou que vive beliscando algo. Juntando esses dois quadros, consigo definir melhor uma fome oculta”, afirma.

Principais complicações clínicas que podem sinalizar a fome oculta:

Queda de cabelo, unhas fracas, falta de disposição, sono alterado, dores de cabeça, problemas digestivos, baixa imunidade, alterações hormonais.

Dados da Fome Oculta

O termo “fome oculta” é usado para descrever deficiências de micronutrientes, mesmo que estas sejam marginais e não apresentem sintomas severos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, estima-se que dois bilhões de pessoas no mundo tenham carência de vitaminas e minerais2. O déficit é ocasionado por baixo consumo de alimentos-fonte, mas desequilíbrios no intestino, por exemplo, também interferem na biodisponibilidade de nutrientes.1

De acordo com a última Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) de 2017-2018, realizada pelo IBGE, 16,4 milhões de brasileiros estão em situação de insegurança alimentar leve. Isso se dá quando a dificuldade financeira faz com que a qualidade alimentar seja deixada de lado como estratégia para gastar menos na hora de fazer as compras.

A insegurança alimentar leve está associada com a fome oculta, pois o indivíduo não sofre com a falta de comida, mas não se nutre da forma adequada. 3

Carências nutricionais de maior prevalência

A carência de iodo, ferro, vitamina A e zinco representa os maiores problemas de saúde pública global, já que acontece com grande frequência e tem graves consequências associadas a esses déficits.

  • 30% da população mundial possui consumo insuficiente de iodo
  • ⅓ das crianças com menos de cinco anos sofrem de deficiência de vitamina A em países de renda baixa e média
  • 17% das crianças não consomem a quantidade necessária de zinco
  • 18% das crianças possuem anemia ferropriva4

Essas são as carências nutricionais mais documentadas, contudo, rastrear a deficiência crônica de magnésio, por exemplo, é difícil. Isto porque o nível sérico normal ainda pode estar associado à deficiência moderada/ grave. Até o momento, não existe um teste de laboratório simples e preciso para determinar o status do magnésio corporal total em humanos. Por esse motivo, avaliar exames bioquímicos e clínicos é fundamental, além do cruzamento de dados com o recordatório alimentar.5

Fome oculta: consequências para a saúde

A fome oculta não está presente apenas em indivíduos com baixo peso, mas também tem altos índices em obesos e em indivíduos acima do peso. Estudos demonstram que adultos e crianças com obesidade têm status de micronutrientes mais baixo do que o normal. A prevalência de deficiência de micronutrientes, incluindo vitaminas C e E, folato e B12, aumentaram com IMC maior. Mulheres obesas apresentam níveis mais baixos de folato, vitaminas C, E e D, bem como maior estresse oxidativo e inflamação, comparadas a mulheres com peso normal. 3

Envelhecimento precoce

Visto que as vitaminas e minerais também desempenham ação antioxidante - tão importante na proteção do organismo - a fome oculta está associada, também, ao envelhecimento precoce, contribuindo para o envelhecimento cutâneo e celular.

Acredita-se que a deficiência ocorra devido à baixa ingestão de alimentos com densidade nutricional adequada. “Uma alimentação pobre em nutrientes pode ser rica em gordura e açúcares, que estão diretamente relacionados à obesidade e ao envelhecimento”, destaca Marcela.

Além das recomendações de consumo de alimentos nutritivos e de suplementação, acredita-se que os alimentos fortificados com vitaminas e minerais podem contribuir no processo de melhoria da saúde do indivíduo e do coletivo. “ Esses alimentos são boas opções para serem usados como um complemento, de acordo com a necessidade do paciente. Mas não podemos deixar de priorizar a alimentação natural, com alimentos naturalmente ricos nesses nutrientes”, conclui Marcela.

Deficiência de micronutrientes e sistema imunológico

As vitaminas e os minerais desempenham um papel crítico na resposta imune inata e adaptativa às infecções virais, incluindo o coronavírus causador da COVID-19. A ingestão alimentar insuficiente em micronutrientes não apenas enfraquece o sistema imunológico, mas também contribui para o surgimento de cepas mais virulentas por alterações da composição do genoma viral. Sendo assim, a nutrição é peça chave na resiliência da pandemia 8.

Zinco, selênio, iodo, cobre, ferro, vitamina A, complexo B, vitamina C, vitamina D e vitamina E têm destaque no fortalecimento do sistema imunológico.1, 6, 7

A sobreposição de várias deficiências nutricionais em níveis populacionais e individuais e a extensão total das deficiências múltiplas permanecem mal documentadas3. Por isso, é importante que os profissionais estejam sempre atualizados sobre o tema para fazer o correto diagnóstico das carências nutricionais, mesmo quando deficiências marginais, para que possam agir o quanto antes, sem prejudicar a saúde do indivíduo.

Além da orientação quanto ao consumo de alimentos-fonte e a correta suplementação, o nutricionista pode fazer uso dos alimentos fortificados como mais um aliado no combate à fome oculta. Espera-se que, com esses produtos inseridos no hábito alimentar do paciente haja uma melhor adesão à uma dieta adequada.

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Por SPRIM Brasil

Referências:

  1. [1] Harding, K, Aguayo, V, & Webb, P. (2018). Hidden hunger in South Asia: A review of recent trends and persistent challenges. Public Health Nutrition, 2018. Disponível em: https://doi:10.1017/S1368980017003202
  2. [2] Organização Mundial da Saúde. (2014, 14 de novembro). Nutrition Topics. Disponível em: https://www.who.int/nutrition/topics/WHO_FAO_ICN2_videos_hiddenhunger/en/
  3. [3] IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018. Rio de Janeiro, 2019. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101670.pdf
  4. [4] Lenaerts B, Demont M. The global burden of chronic and hidden hunger revisited: New panel data evidence spanning 1990–2017. Global Food Security. 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.gfs.2020.100480
  5. [5] Reddy P, Edwards LR. Magnesium Supplementation in Vitamin D Deficiency. American journal of therapeutics. 2019. Disponível em: https://journals.lww.com/americantherapeutics/Abstract/2019/02000/Magnesium_Supplementation_in_Vitamin_D_Deficiency.20.aspx
  6. [6] Gorji A, Khaleghi Ghadiri M. Potential roles of micronutrient deficiency and immune system dysfunction in the coronavirus disease 2019 (COVID-19) pandemic. Nutrition. 2021. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33277150/
  7. [7] Richardson D, Lovegrove J. Nutritional status of micronutrients as a possible and modifiable risk factor for COVID-19: A UK perspective. British Journal of Nutrition. 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1017/S000711452000330X
  8. [8] Eggersdorfer M, et al. Hidden Hunger: Solutions for America’s Aging Populations. Nutrients. 2018. Disponível em: https://doi.org/10.3390/nu10091210
  9. [9] McAuliffe S, et al. Dietary micronutrients in the wake of COVID-19: an appraisal of evidence with a focus on high-risk groups and preventative healthcare. BMJ. 2020. Disponível em: https://nutrition.bmj.com/content/early/2020/06/17/bmjnph-2020-000100
  10. [10] Richardson, D., & Lovegrove, J. Nutritional status of micronutrients as a possible and modifiable risk factor for COVID-19: A UK perspective. British Journal of Nutrition. 2021. Disponível em: https://nutrition.bmj.com/content/early/2020/06/17/bmjnph-2020-000100
  11. nutrição é peça chave na resiliência da pandemia [11] Birgisdottir BE. Nutrition is key to global pandemic resilience. BMJ. 2020. Disponível em: https://nutrition.bmj.com/content/early/2020/10/14/bmjnph-2020-000160

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