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Quando os vegetais passam a ser os protagonistas no prato

Quando os vegetais passam a ser os protagonistas no prato

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Por Goretti Tenorio, para Estúdio Abril Branded Content

Encomendada pela Sociedade Vegetariana Brasileira, uma sondagem feita em 2018 revela uma ampliação do interesse por produtos vegetarianos, veganos e afins: os números representam um crescimento de 75% em comparação com levantamento similar de 2012. “Nesse público estimado de 30 milhões de pessoas, 7 milhões delas são veganas”, destaca Guilherme Carvalho, secretário executivo da Sociedade Vegetariana Brasileira, referindo-se ao grupo que exclui das refeições qualquer alimento de origem animal. “Existe, portanto, um movimento claro de redução de consumo de carne, laticínios e ovos. E essa força motriz impulsiona o mercado a oferecer mais opções de boa qualidade para atender a essa mudança”, diz Guilherme.

Diante desse cenário – que, muito além de significar deixar de comer carne, está associado a todo um estilo de vida –, não surpreende perceber o aumento de startups investindo nesse setor. Em maio de 2019, chamou atenção o disparo de preço das ações de uma empresa de hambúrgueres vegetarianos ao abrir o capital na Bolsa de Valores de Nova York. “Mesmo sendo ainda minoritária a parcela dos que se consideram vegetarianos/veganos, na pesquisa Ibope vimos também que 55% da nossa população alega que consumiria mais itens desse segmento se eles fossem mais bem identificados nas prateleiras. E 60% compraria se o preço se equiparasse ao dos produtos convencionais”, conta Guilherme. “Um fator primordial para a construção desse momento que estamos vivendo é a conscientização, a criação de uma massa crítica buscando uma alimentação mais sustentável, com preocupação com meio ambiente e trato mais justo dos animais”, conclui.

Para Paula Gandin, nutricionista de São Paulo especializada em alimentação vegetariana, os benefícios para a saúde são outro apelo indiscutível. “A ciência vem mostrando o impacto da plant-based diet na prevenção de doenças crônicas”, lembra ela. É o caso de uma revisão de estudos feita na New York University School of Medicine, em 2017, na qual aparecem evidências de que dietas que enfatizam legumes, grãos integrais, vegetais, frutas, nozes e sementes são eficazes para prevenção e tratamento do diabetes tipo 2.[1] “A pessoa observa o impacto, por exemplo, nos resultados da hemoglobina glicada, e isso faz com que melhore a adesão a um cardápio baseado em vegetais”, analisa Paula.

Pesquisadores da Nova Zelândia, por sua vez, publicaram na revista Nature um artigo em que apontam redução no índice de IMC, colesterol e outros fatores de risco para doenças cardiovasculares entre indivíduos que aderiram por seis meses a um programa vegetariano.[2] Ora, as plantas carregam uma menor quantidade de gordura saturada e maiores teores dos ácidos graxos ômega-6 e ômega-3, elevando também a população de bactérias da flora intestinal mais associadas ao equilíbrio do organismo.[3]

Mas de onde vêm então as alegações de que vitaminas, minerais e compostos bioativos presentes nos alimentos de origem animal faltariam nos vegetais? “Nos anos 1980 e 90 havia de fato uma preocupação maior sobre essa possibilidade de carências. Sem a carne, diziam, haveria uma baixa no ferro do organismo. Mas hoje sabemos que tudo se resume a comer bem ou mal. Seja onívoro ou vegetariano, um indivíduo pode apresentar deficiências se não houver equilíbrio na ingestão dos grupos alimentares”, pondera Paula.

Além da carne, não custa lembrar, o ferro está nas leguminosas e nas folhas verde-escuras. De acordo com o Guia Alimentar de Dietas Vegetarianas para Adultos,[4] é possível substituir um bife grelhado de cerca de 65 g por sete colheres de sopa de lentilha cozida para obter a mesma quantidade de ferro, com teor de calorias similar. Se a ingestão da leguminosa for acompanhada por suco de laranja, melhor ainda, uma vez que a vitamina C da fruta é potente estimulador para a absorção de ferro. A mesma estratégia vale quando se trata de garantir o aporte adequado de zinco. Cereal matinal de milho, grão-de-bico e castanha-do-pará, assim como folhas de coentro, são boas fontes desse mineral, cujo déficit é associado a problemas no metabolismo e na imunidade.

Já com vegetais verde-escuros, como couve e brócolis compondo o prato, ganha-se de quebra cálcio, magnésio e vitamina K. “A grande questão é que apenas 17% dos brasileiros comem as recomendadas quatro a cinco porções de frutas, hortaliças e legumes por dia”, lamenta Paula Gandin. “Aí, mesmo tomando três copos de leite por causa do cálcio, não se ingere magnésio, igualmente importante para os ossos”, exemplifica.

Com exceção da vitamina B12 – essa, sim, dificilmente adquirida com uma dieta estritamente vegetariana, o que, a critério médico, pode demandar suplementação –, os demais nutrientes estão espalhados no reino vegetal. Assim, com cuidados nas combinações e ajustes nas quantidades, a dieta vegetariana é capaz de suprir os nutrientes necessários para o bom funcionamento do corpo. “Trata-se de uma via de mão dupla. A mudança no cardápio pode começar em razão de uma melhora nos índices laboratoriais e depois a pessoa passa a considerar também a questão ambiental. Ou ela adota o vegetarianismo por uma preocupação com a ética em relação aos animais e à sustentabilidade e acaba percebendo os benefícios para a saúde”, avalia Paula Gandin. Seja como for, ela ressalta, o profissional de nutrição precisa conhecer muito bem os alimentos para orientar com segurança seu paciente, onívoro ou vegetariano, a fazer as melhores escolhas a fim de evitar lacunas nutricionais.

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Referências:

  1. Michelle McMacken M, Shah S. A plant-based diet for the prevention and treatment of type 2 diabetes. Journal of Geriatric Carciology. 2017. Disponível em [https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5466941/]
  2. N Wright, L Wilson, M Smith, B Duncan, P McHugh5. The BROAD study: A randomised controlled trial using a whole food plant-based diet in the community for obesity, ischaemic heart disease or diabetes. Nature. 2017. Disponível em [https://www.nature.com/articles/nutd20173]
  3. Franco‑de‑Moraes AC, Almeida‑Pititto B, Fernandes GR, Gomes EP, Pereira AC, Ferreira SRG. Worse inflammatory profile in omnivores than in vegetarians associates with the gut microbiota composition. Diabetology & Metabolic Syndrome. 2017. Disponível em [https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5557559/]
  4. Slywitch E. Guia alimentar de Dietas Vegetarianas para Adultos. 2012. Disponível em [https://www.svb.org.br/livros/guia-alimentar.pdf]

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