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Entenda o mindful eating

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Da criança ao vovô, toda a família pode colher benefícios com o uso dessa ferramenta, que, entre outras coisas, resgata a boa relação com a comida.

Por Regina Célia Pereira, para Estúdio Abril Branded Content

Embora tenha raízes milenares, por seu elo com práticas de meditação zen-budistas, o mindful eating invade os consultórios brasileiros e traz uma pitada de calmaria em meio à loucura do cotidiano. O conceito de comer com atenção plena pode ser um grande aliado desde muito cedo, ainda na infância. Inclusive a temática pediátrica foi destaque no II Congresso Internacional de Mindful Eating, que aconteceu em São Paulo, nos dias 7 e 8 de novembro de 2019, e reuniu mais de 700 participantes.

“Há facilidade em trabalhar essa abordagem com o público infantil, já que as crianças tendem a se alimentar de forma atenta naturalmente”, comenta o nutricionista João Motarelli, do Centro Brasileiro de Mindful Eating e organizador do evento. Motarelli lembra que na fase de introdução à comida sólida, por volta dos 6 meses de idade, os pequeninos gostam de manipular e brincar com os alimentos e saboreiam sem pressa justamente porque estão com todo o foco para aquele momento. Eles vivenciam a experiência de forma aberta e curiosa. Ou seja, tudo a ver com as sensações de bem-estar típicas do mindfulness.

Mas, infelizmente, tudo isso costuma desaparecer com o passar do tempo. Seja porque a meninada começa a fazer as refeições em frente à TV, ou a mastigar enquanto mexe em tablets e celulares – enfim, são diversos os fatores que levam à distração. Exatamente como no mundo adulto, diga-se. Também há os pequenos que são levados ao contexto das dietas cheias de regras e que acabam prejudicando muito a relação com a comida. Daí que a prática do mindful eating é uma estratégia que ajuda a resgatar essas características perdidas. “Pode contribuir para que as crianças voltem a comer de forma intuitiva, autônoma, e colabora para as melhores escolhas”, comenta o nutricionista.

E se os pais, avós ou cuidadores também forem adeptos, tanto melhor. “Cabe ressaltar que os pequenos seguem exemplos”, diz a nutricionista Manoela Figueiredo, autora do livro Mindful Eating – Comer com Atenção Plena, publicado pela SAÚDE, da Editora Abril. Manoela destaca a importância de fazer as refeições em família. Seja o café da manhã, o almoço ou o jantar, vale reunir todo mundo pelo menos uma vez por dia. “Trata-se de uma oportunidade para convidar as crianças a participar do preparo da comida e da arrumação da mesa, por exemplo”, sugere. Cada passo pode desencadear deliciosas experiências sensoriais, basta reparar nos sabores, nas texturas e nos aromas. A sugestão da expert é de tentar se conectar com todos os sentidos e não apenas com o paladar. Adotar a técnica ainda nos primeiros anos de vida colabora para que bons hábitos alimentares se perpetuem para a vida.

Benefícios de corpo e mente

Além de tornar a hora de comer muito mais prazerosa, a atenção plena traz uma porção de benesses atestadas pela ciência. Um trabalho realizado com um pequeno grupo de adolescentes mostra que aplicar um programa baseado no conceito do comer intuitivo colabora para a adoção de um cardápio mais equilibrado. [1]

Também não faltam evidências sobre os benefícios durante a gravidez. Um estudo recém-publicado mostra uma ação no controle glicêmico das gestantes. [2] A técnica tem sido associada ainda com a manutenção do peso. [3] Diversas pesquisas comprovam que pode contribuir para dar um chega pra lá na crescente onda de obesidade.

Já se sabe que a ferramenta favorece a autorregulação do comer. Quando se exercita o mindful eating, ocorrem novas sinapses entre os neurônios, a chamada neuroplasticidade. Isso colabora, entre outras coisas, para uma redução das reações automáticas diante da comida, responsáveis por descontrole. Há uma melhor percepção da fome genuína e diferenciação do que é desejo, necessidade ou vontade. Além disso, o comer intuitivo colabora no sentido de evitar aquele apetite voraz impulsionado por emoções.

O professor João Motarelli destaca outra temática debatida no congresso, a de se adotar um olhar mais compassivo. “Pode causar certo estranhamento, mas quando falamos em compaixão o nosso propósito é o de provocar uma conexão com o próprio sofrimento para aliviá-lo”, explica. Na pressa do cotidiano, é muito perceptível o que se define como um padrão disfuncional, que pode ser, por exemplo, comer correndo e sentir desconfortos digestivos justamente porque o alimento não caiu bem. “Privar o organismo de comida por causa de uma insatisfação gerada pela distorção com a imagem corporal é comum também”, exemplifica. Por isso, quando o indivíduo se volta para essas sensações e avalia o que está desagradável, sua atenção pode provocar a real necessidade de se tornar amável consigo mesmo. Serve de estopim para ele dar uma pausa na hora da refeição e aceitar seu corpo como é.

Como inserir no dia a dia?

“Para trabalhar com o mindful eating é fundamental ter uma abordagem não prescritiva e que não seja baseada em dietas”, defende Motarelli. A prática pessoal da técnica no cotidiano ajuda o profissional a repassar para seus pacientes. Inclusive, grande parte dos nutricionistas que estudam comportamento alimentar se utilizam desse conceito.

O que se recomenda é a participação em programas validados cientificamente. É importante que esses cursos disponham de um tempo que permita o processo de transformação e que o nutricionista se conecte e se sensibilize para a fome e a plenitude. “No consultório, quando se orienta sobre a importância de comer com prazer e de desfrutar das refeições, automaticamente ocorre o reforço da ideia de se alimentar devagar, saborear, prestar atenção aos sinais de saciedade e evitar distrações”, ensina Manoela. Tudo isso sem julgamentos, valorizando a comida e não apenas os nutrientes.

“É desafiador e nem sempre vamos ter tempo para a atenção plena, mas é importante ter a clareza, tentar entender e resgatar o cuidado consigo mesmo”, conclui Motarelli.

Referências:

  1. [1] Barnes VA, Kristeller JL. Impact of Mindfulness-Based Eating Awareness on Diet and Exercise Habits in Adolescents. International Journal of Complementary & Alternative Medicine. 2016. Disponível em [http://medcraveonline.com/IJCAM/IJCAM-03-00070.php]
  2. [2] Quansah DY, Gross J, Gilbert L, Helbling C, Horsch A; Puder JJ. Intuitive eating is associated with weight and glucose control during pregnancy and in the early postpartum period in women with gestational diabetes mellitus (GDM): A clinical cohort study. Eating Behaviors. 2019. Disponível em [https://doi.org/10.1016/j.eatbeh.2019.101304]
  3. [3] Artiles RF, StaubK, Aldakak L, Eppenberger P, Rühli F, Bender N. Mindful eating and common diet programs lower body weight similarly: Systematic review and meta‐analysis. Obesity Reviews. 2019. Disponível em [https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/obr.12918]

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